quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Como continua a história, quando falta um dos personagens principais?


"Tem dias que são o seu pai, Francisco. Amanhece, o sol lá fora diz o nome dele, o silêncio do sábado chora a sua ausência. E de repente tudo o que era alegria vira um buraco. Tem dias que tudo que andei se desfaz. E volta uma tristeza aguda, a maior do mundo. Em dias como esses, só você faz sentido. Porque você é a continuação da nossa história. Tem dia que o sol pode brilhar lindo lá fora, mas é um brilho triste. Tem dia que nem chove, mas é dia de choro. Mas tem sempre um outro dia, filho. Foi você quem me ensinou isso." (A mãe escreve para o filho sobre o pai que ele não teve tempo de conhecer.)
E a pergunta é: Como continua a história, quando falta um dos personagens principais? Imagine a dor que deve ser você saber que você tem que seguir sem uma parte da sua história que é tão essencial. Saber que aquela pessoa que você amava dividir a sua vida, não está mais lá para participar, ela simplesmente não faz mais história e agora é só uma parte dela. Passado. Não há mais presente e nem futuro. Todos os seus planos para o seguimento da história vão por água abaixo, não há mais o personagem que iria viver tudo o que você imaginou. Infelizmente pessoas vão e levam embora uma parte da gente, porém há aquelas pessoas, como o Francisco do texto, que nem pôde conhecer um dos fatores primordiais para ele estar vivo. Teve que viver e se conformar com a ausência do pai. Francisco teve que perder antes mesmo de ter. Essa história me lembra um amigo meu que passou por uma situação parecida, sendo que ele perdeu o pai e a mãe quando ele tinha apenas 4 anos. Me explica como uma criança pode conseguir seguir sem a presença da família? Bem, ele teve que seguir, teve que chutar a bola para frente, mas eu nunca vi um sorriso muito feliz no rosto dele. A vida dele é sofrimento sempre. O amor que ele tanto precisava foi tirado dele. Ele ficou sem os protagonistas de sua história. Teve que aguentar os dias que não choviam, mas eram dias de choro. Puro choro e dor. Eu assisti isso e hoje tem gente que me pergunta o porque que eu tento estar sempre sorrindo e aí está a resposta. O meu convívio de anos com ele me ensinou muita coisa. Me ensinou a esperar sempre que as coisas não durem tanto quanto a gente realmente quer, então tudo deve ser aproveitado, deve ser feito com amor. E principalmente aprendi a amar antes. Antes do entendimento, antes da beleza, antes da troca, antes de chegar, antes de ir, antes de ganhar, antes de perder. Antes do amanhã. Então, passo para vocês, caros leitores, a lição que aprendi: não endureça tanto o seu coração e deixe SEMPRE as pessoas com palavras bonitas e sorrisos seus no fim do dia, pois você não sabe se as verá no dia seguinte.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

SILENCE!


Eu gosto das palavras, gosto mesmo, tanto que adoro escrever, adoro falar, faço disso praticamente meu trabalho. São tantas e tantas coisas que só as palavras vão conseguir explicar, tantos fatos que podem ser descritos, contados, exemplificados. Porém essas 'tantas coisas' são minoria quando falamos de intensidade. As palavras, essas ridículas palavras, só destroem com momentos que finalmente iriam ficar do jeito certo, iriam encaixar nos nossos conceitos de vida e sonhos. Que menina nunca se decepcionou quando o momento mais romântico da sua vida começa e o garoto simplesmente começa a narrá-lo? Vou exemplificar, coloquem a imaginação para funcionar: uma garota está numa festa, começa uma música lenta e o garoto que ela sempre gostou, desde pequena, aparece na sua frente e a convida para dançar. Ela vai, seu coração parece que vai arrebentar de tanta felicidade, parece vai escorrer alegria dos seus poros e ele sorri quando ela olha nos olhos dele cheia de timidez. Eles dançam, uma, duas músicas e ela só quer que ele a beije, só quer liberar toda a felicidade por sua boca e ele vem em sua direção, ela fecha os olhos, mas no lugar de ele ir em direção da boca, ele vai até seu ouvido e fala: "Eu não sei se você gosta de mim, mas eu gosto de você. Me desculpa, se eu estiver te forçando a dançar ou qualquer coisa. Bem, hã, posso te beijar?". Acredite em mim, na primeira palavra que ele falou metade da magia do momento se esvaiu. Esses momentos foram feitos para não haver conversa. As palavras conseguiram acabar com aquilo que ela queria. É claro que ela ia aceitar o beijo, não estava na cara desde o começo que sim, ela queria beijá-lo? É tão óbvio que chega a ser besta! As palavras estragam momentos intensos, essa é a verdade. O lance é sentir, deixar levar... é IRRACIONAL. As palavras tiram as pessoas do mundo dos puros sentidos para o mundo em que as ideologias te matam, que os conceitos e tradições te param. O silêncio vai dizer muito mais do que qualquer palavra no mundo. O silêncio vai dizer tudo, sem falar nada. E aí está o que eu chamo de pureza, não há como fingir quando o silêncio impera. Não há mentiras, não há como duvidar. Hoje em dia, os romances não dão tão certo, porque as pessoas só se prendem no que os outros falam. A confiança não virá com palavras, como as amizades que não vivem de palavras, já que uma pessoa só pode provar que realmente é amiga da outra, quando algo acontece e um suporta o outro, não é necessário chamar, pedir, gritar, o amigo de verdade estará lá e toda a confiança e amizade estará enterrada num abraço. Palavras desnecessárias. Então acredite na dona dessa canção de ninar: o 'eu te amo' mais lindo que você irá receber na vida será de uma pessoa que irá te olhar e com sequer uma letra dirá tudo o que você sempre quis ouvir na vida.

domingo, 6 de setembro de 2009

Sneakers


Eu sempre fui uma garota muito alta. Sempre. A menina que tinha que ficar junto dos garotos no fim da fila. E eu era a única que não queria beijar na boca com 9 anos de idade. Eu tinha nojo de meninos, como meninas normais com essa idade, mas minha amigas eram, podemos dizer, a frente do tempo, mas era eu quem ficava no fim da fila com eles.
As meninas queriam ser mulheres, queriam maquiagens, vestidos decotados (para os seios que quase não existiam ainda) e saltos altos. E mais uma vez, eu não queria isso. Maquiagem, eu adorava colocar no rosto das minhas bonecas; vestidos decotados, bem eu tinha total compreensão que eu não tinha o que colocar dentro do tecido do decote e saltos altos, eu não precisava deles. A menina alta, não precisava, não gostava e não queria usar salto alto. Metade das minhas amigas eram loucas por um par e eu não. Mas quando você entra na pré adolescência você não tem mais nojo de garotos e você quer ser olhada e nesse contexto eu não estava excluída, eu também queria. Garotos amam saltos alto, eu não usava.
Desde pequena, minha mãe amava comprar All Stars para mim e eu não me importava, para mim era só algo para colocar nos pés e sair brincando pelo pátio do condomínio. Fui crescendo, a brincadeira continuava e o tênis também. Até hoje, tirando o condomínio e sair correndo por aí, eu quase não mudei. Eu me sinto a mesma garota de antes, só que agora eu sei mais coisas e me comporto como uma menina de 17 anos, mas a essência está intacta. Acho que é por isso que várias pessoas se irritam comigo, a minha essência de 5 anos, é a mesma e os meus sonhos são quase os mesmos e eu gosto de ser assim. E o não-desprendimento dos meus tênis, o meu desgosto por saltos altos são exemplos disso.
Os garotos continuam gostando de meninas de salto alto e continuo gostando de tênis. Acho que estou indo contra a maré, porém ir contra ela não me machuca, na realidade nem dói. Pode crer que o desconforto de um salto alto provoca uma dor muito maior. Aprendi que o importante é sentir o calor da alma, se senti confortável com ela e só. Acho que vou seguir essa teoria. Acho que um dia eu vou encontrar alguém que venha contra a maré junto de mim, alguém que goste de tênis e almas de cinco anos de idade.